Roteiro de road trip no sul da California

Um roteiro redondinho para quem tem poucos dias na Califórnia e não quer se afastar muito de L.A.

Não foi à toa que o Estado da Califórnia recentemente adotou o slogan “road trip republic“; afinal, o Estado parece que foi mesmo pensado e planejado para ser explorado em viagens de carro, moto e motorhome. Enquanto se fazem necessários muitos dias de viagem para explorar as principais atrações do Estado, vale dizer que mesmo quem tem pouco tempo (de 7 a 10 dias por ali, por exemplo) pode – e deve – explorar um pedacinho da Califórnia em uma road trip.

Foi isso o que eu fiz neste mês de junho: após participar da IPW 2019, a maior feira de turismo dos EUA, em Anaheim, aproveitei para esticar a viagem a partir de Los Angeles em uma viagem de carro deliciosa. Como Los Angeles conta com voo direto desde São Paulo, fica prático e fácil chegar e sair por ali, pegando e devolvendo o carro alugado no mesmo lugar.

Depois do texto publicado ontem no Viagem Estadão, muitos leitores me pediram para fazer um post mais pedaçudo, incluindo distâncias, todos os hotéis do roteiro e mais detalhes. Como pedido de leitor é ordem, aqui vai! O roteirinho passo a passo da minha viagem pela porção sul do Estado da Califórnia, em detalhes, para quem quiser se inspirar 🙂

Como a gente desembarca em LAX, acho que Los Angeles vale sempre a parada, mesmo que você já  conheça a cidade; afinal, tem sempre muita novidade e algumas áreas são tão gostosas que merecem sempre repeteco. Para quem vai pela primeira vez, a cidade tem tanta coisa legal para fazer que tem programa fácil para uma semana! Mas mesmo com o tempo mais corrido dá bem para apertar a programação em uma parada mais enxuta. A cidade é fértil em excelentes museus, bairros descolados, locações de cinema, bons bares, cafés e restaurantes. Desta vez, como conheço bem a cidade, fiquei menos tempo ali – mas, ainda assim, arrumei tempo para curtir um pouquinho de Santa Monica, Abbot Kinney/Venice Beach e West Hollywood. Dá pra ver mais sobre o que fazer em Los Angeles aqui.

De Los Angeles, Torrance fica pertinho – são 34km. Do aeroporto LAX são menos de 30 minutos – mas dependendo de onde você estiver na cidade o trânsito pode te fazer levar bem mais que isso para chegar. Se Los Angeles é terra de agito, Torrance é a antítese completa: não há trânsito, tudo é pertinho e o clima geral é de tranquilidade como seria mesmo de se esperar de uma cidadezinha do interior. Mas Torrance tem também belas praias, bons museus (destaque para o Torrance Art Museum e a Chen Art Gallery) e está virando um pequeno paraíso para os foodiesde plantão, com excelentes opções em bares, restaurantes (amei o mexicano Madre!,  especializado em mezcal e na cozinha de Oaxaca). Ficou famosa internacionalmente nos anos 90 por um de seus principais colégios servir de figuração para diversos filmes e séries, incluindo Barrados no Baile e Buffy – A caça-vampiros. Hoje, Torrance tem também o terceiro maior shopping center dos EUA, o Del Amo Fashion Center. Lá eu montei base no Marriott Torrance Redondo Beach, que, apesar de antigão nos quartos, tem serviço bem simpático, um ótimo lounge Marriott Rewards e um ótimo bar e restaurante no lobby também – além de ficar muito bem localizado. Vale experimentar também o charmoso hotel boutique BlueStem Hotel, que acaba de ser inaugurado e tem café da manhã incluído nas diárias. Dá pra dormir uma ou duas noites em Torrance – uma noite se for curtir só a cidade, duas se quiser curtir praia também.

De Torrance a Anaheim são 40km. Anaheim é uma parada clássica para fãs de parques de diversões. Afinal, é ali, bem no centro da cidade, que ficam os dois parques da Disneyland – incluindo a nova e absolutamente imperdível área Galaxy’s Edge, paraíso mais que perfeito para fãs de Star Wars (o parque novo está todo pronto, o simulador da Millennium Falcon já está aberto e até o final do ano uma nova atração de Star Wars será aberta por lá). Mais distante e bem menor, o parque Knott’s Berry Farm, apesar de pouco frequentado por brasileiros, é um programão para quem curte montanhas-russas. Entre uma coisa e outra, a cidade também é fértil em mercados e cervejarias artesanais. Vale passar ao menos pelo delicioso Packing District, um antigo armazém convertido em um animadíssimo mercado cheio de opções para comer e beber – com destaque absoluto para o imperdível bar e restaurante The Blind Rabbit, de fazer inveja aos melhores speakeasy de Chicago! Se a ideia for algo mais descontraído, aposte sem medo no Urbana. Anaheim vale uma ou duas noites, dependendo de quantos parques você pretende fazer. Ali eu recomendo muito a hospedagem no Anaheim Marriott, que acaba de ser renovado e reinaugurado e ficou mesmo super gostoso, tanto em conforto quanto em serviço e design – e ainda por cima tem ótima localização tanto para quem vai a trabalho (fica ao lado do centro de convenções) como para quem vai a lazer (já que fica a pouco mais de dez minutos de caminhada da Disneyland).

No caminho a Santa Bárbara – minha parada mais esperada de toda a viagem – parei também para conhecer as pequenas Oxnard e Ventura. Oxnard fica a 123km de Anaheim, mas foi um grande equívoco no meu programa (fiquei hospedada na cidade e não recomendo). Pessoalmente não recomendo que parada ali seja feita para mais que um café ou almoço no novo mercado The Annex, no complexo de compras The Collection. Quem já tiver parado em Camarillo nos Camarillo Premium Outlets (queridinho dos brasileiros) pode muito bem seguir viagem direto à vizinha Ventura. A minha passada nos outlets foi relâmpago (mesmo!), mas deu pra ver que os preços ali são mesmo bem interessantes, tipo os mega descontos dos outlets de Orlando, por exemplo.

Ventura, a apenas 15km de Oxnard, além de ser uma graça de cidade, tem inclusive mais estrutura hoteleira. Ali acaba de abrir as portas, totalmente remodelado, um Marriott dessa nova geração de Marriotts (a.k.a. sem aquela banheira antiga pavorosa e com muito mais design e bons restaurantes): o Ventura Beach Marriott. Ventura pode muito bem ser apenas uma parada no trajeto Anaheim-Santa Bárbara, mas para quem tiver tempo vale uma noite de hospedagem ali para poder curtir a cidade com calma. O centrinho de Ventura é adorável, daquele tipo bom de bater perna – e que pode ser visitado em poucas horas. Tem um belo museu da época das missões, lojinhas super fora do óbvio, cervejarias artesanais, bares, restaurantes e montes de cafés gostosos.  Depois de concluir o footing no centrinho, são poucas quadras até chegar em seu mais famoso cartão postal, o Ventura Píer, um píer de madeira erguido sobre a praia queridinha dos surfistas na cidade. Mas se a tarde estiver terminando, vale pegar o carro e rumar para o Ventura Harbour, a bela marina da cidade, que fica ainda mais bonita na hora do por-do-sol.

De Ventura para Santa Barbara são meros 40km e a estrada fica cada vez mais bonita! Margeando a costa, a gente chega a Santa Bárbara e já vai se apaixonando de cara, com aquela vibe de “cartão postal da Califórnia”. A cidade é uma mistura linda de palmeiras enormes, o waterfront, as casinhas e predios baixinhos brancos coloniais e as montanhas. E ainda é rodeada por vinhedos e vinícolas! Ali eu fiquei hospedada no irretocável Belmond El Encanto, um hotel instalado nas montanhas de Santa Bárbara (numa propriedade que já foi universidade em outros tempos!), com os quartos e suítes todos em forma de bangalô, em casinhas brancas, como no centro da cidade – e ainda tem vistas panorâmicas matadoras para a cidade, praia e montanhas. E ainda tem um café da manhã delicioso, com vista imbatível. Ainda vou falar dele em separado aqui porque o hotel vale mesmo o quanto custa.

O centro da cidade é um constante convite para simplesmente bater perna entre seus cafés, bares, restaurantes, teatros e lojas, dia e noite. As quadras são pequenas, as ruas são organizadas e há deliciosos jardins e praças aqui e ali para refrescar o calorão que pode fazer na cidade durante o verão. Se bater preguiça de caminhar muito, há charmosos bondes fazendo o dia todo passeios “hop on, hop off” pela cidade (cerca de US$25) e há também farta oferta de aluguel de bicicletas. Nos dias mais bonitos, um outro bom programa é embarcar em um dos muitos cruzeirinhos cênicos que saem do waterfront: as vistas para a cidade, suas falésias e as montanhas é linda! E a gente ainda ganha de brinde ver golfinhos e leões marinhos durante o percurso (cerca de US$45 por pessoa).

Quando o dia vai terminando, o melhor programa é rumar para a Funk Zone, a adorável e descolada nova área da cidade que reúne bares, cafés, restaurantes, lojas, cervejarias e wine rooms, tudo em poucas quadras. Fiz uma degustação de vinhos bem generosa (5 vinhos por US$15) na animada Pali Wines e recomendo muito tanto o bar quanto o restaurante do Lark – tudo gostoso, ambiente incrível e ótimo serviço. São tantas opções por ali que dá pra fazer uma dobradinha tasting+jantar por noite sem nem sair da Funk Zone durante toda a estadia! A cidade também ganhou o novo hotel The Californian, da Preferred Hotels, em pleno centro da cidade e com o rooftop mais bonito da região.

Santa Bárbara vale pelo menos três noites de hospedagem – duas se a sua viagem estiver realmente corrida. Mas com três dá pra curtir bem a cidade e também gastar um dia todinho fazendo o day tour às vinícolas do Vale de Santa Ynez, uma região linda e de ótimos vinhos. O ideal é incluir no mesmo passeio uma passadinha para conhecer a fofa Solvang, uma cidadezinha dinamarquesa em plena Califórnia (a Renata Araújo do You Must Go, que fez parte desta road trip comigo, conta mais sobre Solvang aqui), e nas cervejarias e destilarias artesanais da pequena Buellton. Para não misturar bebida e direção, neste dia o negócio é deixar o carro parado e entrar num dos muitos tours oferecidos pela região a partir de Santa Bárbara.

De Santa Bárbara rumei para Malibu, distante 100km.  Malibu se revelou uma opção acertadíssima para terminar a viagem: o destino não apenas tem praias gostosas, um píer imperdível e toda aquela vibe dos surfistas como também anda rodeada de boas vinícolas. Fiquei hospedada no hospedada no delicioso Malibu Beach Inn, parte do portfóliol da Leading Hotels of the World,  que foi uma das mais gostosas surpresas da viagem. Pequenininho, discreto e tão descolado como a própria Malibu, mas com um serviço excelente e super atencioso, da recepção às camareiras. Os quartos todos têm deliciosas varandas para o mar, são bem espaçosos e têm uma decoração super leve, como uma casa de praia mesmo. Cápsulas de nespresso e água cortesia todos os dias, assim como imperdíveis trufas de chocolate Vosges no serviço de abertura de camas. O hotel tem serviço de beach club quando a maré está baixa e a totem bag no closet e os slippers vêm com recadinhos pedindo que os hóspedes do hotel realmente levem os produtos para casa, como souvenir. O hotel conta ainda com um ótimo restaurante e bar, o Carbon Beach Club, literalmente debruçado sobre o mar, rivalizando fácil com o badalado Malibu Farm do píer (que fica logo ao lado do hotel).

Para os passeios mais distantes e para conhecer as vinícolas da região, contratei tours separados durante minha estadia. Fiz o Malibu Wine Safári mas não gostei e não recomendo (pelo contrário). Mas gostei muito de fazer tours ali com uma empresa local chamada Malibu Discovery, que tem diversos itinerários diferentes, propondo não apenas para visitar as vinícolas em si, mas também explorar as belas vistas do Malibu Creek, as locações de cinema do Paramount ranch, as praias e os museus da região. Meus tours com eles tiveram carro, guia e timing excelente, incluindo bom almoço à beira-mar em charmosos restaurantes de Malibu (almoço e degustações dos vinhos nas visitas às vinícolas estão sempre incluídos nos preços deles).

E, como o trânsito em Los Angeles anda uma loucura, de Malibu escolhi não ir direto para o aeroporto (são cerca de 40km de distância, mas o trânsito costuma ser surrealmente intenso no trajeto) e optei por fazer o último pernoite da viagem no Hilton Los Angeles Airport. O hotel fica bem ao lado do aeroporto e foi uma boa surpresa, com as áreas comuns reformadas e bem agradáveis. Logo no lobby ficam dois bons restaurantes e bares e o serviço de check in e check out foi bastante atencioso. Para membros elite do programa Hilton Honors, há um ótimo lounge com café da manhã e happy hour cortesia. Uma pena que os quartos ainda não tenham passado pela renovação e ainda tenham um design ultrapassado, incluindo nos banheiros com aquelas mini-banheiras com chuveiro dentro e cortinas (me disseram no hotel que a remodelação dos quartos deve acontecer em breve).

Quem não quiser fazer a viagem toda em carro alugado pode também fazer uso dos excelentes transfers da Blacklane, que atua no mundo quase todo com carros e motoristas excelentes. Usei em parte da viagem e recomendo muito.

Ainda vou contar muito mais, e em detalhes, sobre esta linda viagem de carro pelo sul da Califórnia, destrinchando melhor cada destino – e também fazer review mais completa sobre os melhores hotéis. Por enquanto, dá pra acompanhar mais das minhas aventuras californianas (inclusive de outras viagens) aqui. E também deixei lá nos destaques dos stories do meu Instagram as dicas mais legais da viagem, separadas destino por destino – é só clicar no que mais te interessa que as dicas estão todas lá 🙂